25 junho 2007

Porque deixei de acreditar na humanidade

Quando perguntei aquilo no último post, não era retórica _ não apenas, certo. Mas, provavelmente, esperar alguma resposta quando não se tem um blog famoso o suficiente é esperar demais. Então, vamos só continuar a escrever sobre as coisas incômodas. Uma das minhas preferidas: as pessoas.

Mas não é frescura de misantropo. A despeito da impressão que pode ter ficado após o último texto (se eu fosse você, lia logo essa porra), eu me identifico com aquela coisa bem ‘Imagine do John Lennon’: no countries, no possessions, nothing to kill or dye for and no religion too... Não tô tirando sarro. Vocês não precisam acreditar em mim agora, tudo bem. Mas é utópico, eu sei. Também não podem me culpar por pensar no meu umbigo depois de ter escolhido ser publicitário. Ai, ai... "Farinha pouca, meu pirão primeiro" é tão menos profundo que Lennon.

Mas tem outro ditado que não é menos verdadeiro: "Onde tem gente, tem problema". E, em poucas palavras, é por isso que fica fácil esquecer de dar a outra face e tal e coisa. Se as pessoas ficassem lá sendo problemáticas sem afetar ninguém mais com isso, all right, mas nãão, lá vem elas pra cima dos outros serem tacanhas, espertinhas, preconceituosas, deputados, advogados, intolerantes, egoístas, taxistas, publicitários, orgulhosas, enfim, serem pessoas em geral. E como elas são boas nisso. Se você teve sorte, descobriu isso cedo, como eu:

Quando eu tinha uns 8 ou 9 anos, fiz uma apresentação sobre o Dia do Folclore na escola. Era pra escola toda. Não só a minha mas todas as outras classes estavam no pátio para assistirem as apresentações dos alunos. Eu li um texto sobre o tema e foi tudo bem. Eu me senti importante, valorizado (ingênuo, ainda não sabia que as pessoas aplaudem por tudo). Mas aí me chamaram pra fazer, com mais dois colegas, outra apresentação: de capoeira. E eu sabia capoeira tanto quanto o céu é verde. Meu colegas também não enganavam ninguém. Mas eu pensava que ‘ninguém’ ia achar nada demais, porque a gente era criança e porque aquilo tudo era só uma daquelas atividades escolares que tem aos montes, e eu tava empolgado com meu recente sucesso de público. Ficar gingando e fazer cara de mau por quase cinco minutos não foi suficiente e claro que eu paguei mico. Mas ainda não tinha percebido isso (as pessoas aplaudiram mesmo assim) até que, mais tarde, fim das aulas, uma menina que era da quarta série, Lauana (digo o nome mesmo, não quero nem saber), vizinha minha por quem eu alimentava uma paixão secreta, veio em minha direção, rebolante e sorridente como sempre e disse: "A gente tá com um professor de capoeira, lá na sala. Ele disse que apresentação de vocês merecia um zero bem redondo", riu como se fosse uma piada muito engraçada e fez um zero com as duas mãos. Eu nem lembro com que cara eu fiquei, enquanto ela saiu saltitante, os cabelos muito negros e compridos balançado no ar. E foi assim que eu aprendi que algumas pessoas não estão nem um pouco preocupadas com os outros e que fazem questão de serem sádicas.

Um professor meu também não acredita mais no projeto de um mundo harmonioso à la Imagine por causa da mesma coisa, mas aplicada ao contexto do trânsito nas grandes cidades.

Mas eu tô bem hoje, gente. Como eu disse, foi bastante educativo e a experiência me deu uma vantagem competitiva nesse mundo cruel, no final das contas. Além disso, nunca mais menosprezei a capoeira, pelo menos não com a escola toda olhando.


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Como foi que você descobriu que as pessoas não se importavam com você e podiam ser umas escrotas numa boa, sem o menor peso na consciência? Dê o seu depoimento.

6 comentários:

Edvaldo Santos disse...
Este comentário foi removido pelo autor.
Edvaldo Santos disse...

Divertidíssimo, embora eu tenha levado a sério. Me fez refletir bastante.

Respondendo à sua enquete (pode ser aqui? Lá vai): eu particularmente "descubro" isto todo o dia. Mas relevo o fato de as pessoas estarem cada vez mais cheias do que fazer e preocupadas em arrumar tempo para não terem o que fazer, pois o mundo estressa. Vou evoluir esta resposta em um texto que publicarei no Paliativos... em breve.

Guto Amorim disse...

Quando eu conheci paulinho.
Duvida?!

Isso foi alavancado quando descobri a "Bonzinho Só Se Fode"!
E é mentira?

Quando era pequeno tinha medo de ser sacana com os outros, e pena tbm, por isso era considerado lerdo.

Cresci e percebi que mauzão quase nunca se fode. Mas ainda não sou sacana...às vezes sim.

Anônimo disse...

Ainda creio que aquela velha teoria, sobre o mundo ser quadrado, está em voga. Os pensamentos, as ações, são todas condicionadas a esteriótipos moldados a patir de um mundo capitalista. Realmente, a máxima da "Farinha pouca...", continua valendo, depende muito das circustâncias, mas Lennon, não estava de todo errado em conceber um mundo, quem sabe utópico, mas que não perde a esperança.

Guto Amorim disse...

avon p atualizar...

avon...

Anônimo disse...

Nossa...será que todo mundo só fez as vezes de vítima na vida?
Eu me identifiquei com a garota e assim li, lembrei que já fiz vários "zeros bem redondos" pra muita gente...Ciente das minhas atitudes, sei que fiz por onde quando recebi os "zeros" da vida...acho que isso recaí numa das 7 leis espirituais para o sucesso...mas deixemos isso para um outro momento...