Recentemente fui a uma entrevista de emprego numa agência de propaganda. O entrevistador era um rapaz com experiência de mercado provavelmente maior apenas do que a minha própria. Hesito em fazer uma descrição física mais detalhada e ser enquadrado como determinista... Mas, pensando melhor, sou bem resolvido com minha condição de ser humano, falível. Portanto: branco, calculadamente marombado, cabelo entre loiro-paquito e loiro-surfista, camisa Sandpiper, jeans e não lembro dos sapatos, mas devia ser um típico tipo sofisticado de All Star. Ele me recebeu, nos cumprimentamos e fomos a uma sala próxima. O que se seguiu não foi exatamente uma entrevista.
Não. Também não transamos, se é o que pareceu – quer dizer, eu tava fora de forma e tudo mais...
Minha irritação – frustrado eu fiquei na minha primeira entrevista fracassada – não vem apenas de não ter conseguido a vaga, mas principalmente de saber que fui reprovado por alguém que me deixou perceber isso, e de uma maneira tosca. Novato! Quem mais perguntaria por informações que estão no currículo e imediatamente depois, (pra redimir sua demonstração de tamanha estupidez), as responderia antes que o entrevistado tivesse a chance, não sem uma providencial ‘pesca’ no currículo em suas mãos?
Sem termos discutido carga horária e remuneração, ele me desejou boa sorte, se despedindo (teve o cinismo automático de dizer que abria a porta pra que eu voltasse), e eu fui embora. No caminho de volta pra casa, repassei mentalmente os dez minutos em que ele esteve folheando meu portfolio enquanto me aconselhava a consumir propaganda e ler. É isso mesmo, ler – logo eu! Ele disse que estudou na minha faculdade – aí eu perdi de vez a concentração pra encontrar alguma simpatia nele – e, quando lhe perguntei, que eu tinha sido o 12º a atender o anúncio.
Admiti pra mim mesmo que meu portfolio ainda era pobre e me conformei com isso. Mas o que não me conformei é ter sido avaliado por alguém que não enxergou potencial em mim por simples falta de preparo para tal!
Quem escolhe os escolhedores?
A entrevista de emprego é um recurso avaliativo apurado só até certo ponto. Todo mundo sabe que as pessoas se portam de maneira diferente do costumeiro quando sabem que estão sendo avaliadas. Emular o perfil esperado não é difícil: uma lida no caderno de empregos ou uma conversa com um amigo do ramo, e pronto; nem é preciso treinar muito. Enxergar além dos maneirismos, do cumprimento calculadamente firme e do ‘olhar nos olhos’ de praxe é uma habilidade que deve ser trabalhada e treinada. Porque é muito justo que tenhamos entrevistadores tão interessados em encontrar os melhores candidatos, quanto candidatos interessados em serem escolhidos, certo?
É pedir demais? Obviamente sim, para meu amigo paquito; meu entrevistador era um pateta, sem a menor aptidão para farejar o melhor nas pessoas. Quantos iguais a ele estarão por aí? Como essas criaturas podem deixar passar batido tantos (aconteceu a mesmíssima coisa com mais quatro ou cinco amigos meus), tantos talentos promissores? E mais importante: como essas criaturas podem deixar de fazer isso? Como fazer isso parar?
O problema é coletivo. Mas existe uma solução para essa grave dificuldade pela qual passa o mercado de trabalho brasileiro contemporâneo. Continuando minha missão como guia evolutivo da humanidade, criarei um Curso Intensivo de Formação de Profissionais de RH. A grade de disciplinas incluirá as 120 horas/aula de Provocações I, II e III, com Miranda e Sacomani do Ídolos e Antonio ‘Ravengar’ Abujamra, numa inusitada performance pedagógica assessorada por nossa própria equipe de advogados de acusação. E, é claro, a disciplina obrigatória ‘Como Não Ser Sexy Numa Entrevista’, com Marília Gabriela. Ainda: Palestra/depoimento com Zé Bin. E o workshop “Soro da Verdade – composição, dosagem e administração.”.
Em sete semanas nossos alunos estarão capacitados pra descobrir novos talentos sob o efeito de absinto.
E quando a ‘Olho de Thundera - Human Resources School’ estiver lucrando horrores, selecionando os psicólogos especialistas em comportamento humano das principais corporações mundiais e os próximos jurados do programa do Raul Gil, vamos abrir o capital da empresa e nos dedicar à filantropia, dando aulas públicas sobre em quem acreditar nas próximas eleições.
Matrículas abertas!
Admiti pra mim mesmo que meu portfolio ainda era pobre e me conformei com isso. Mas o que não me conformei é ter sido avaliado por alguém que não enxergou potencial em mim por simples falta de preparo para tal!
Quem escolhe os escolhedores?
A entrevista de emprego é um recurso avaliativo apurado só até certo ponto. Todo mundo sabe que as pessoas se portam de maneira diferente do costumeiro quando sabem que estão sendo avaliadas. Emular o perfil esperado não é difícil: uma lida no caderno de empregos ou uma conversa com um amigo do ramo, e pronto; nem é preciso treinar muito. Enxergar além dos maneirismos, do cumprimento calculadamente firme e do ‘olhar nos olhos’ de praxe é uma habilidade que deve ser trabalhada e treinada. Porque é muito justo que tenhamos entrevistadores tão interessados em encontrar os melhores candidatos, quanto candidatos interessados em serem escolhidos, certo?
É pedir demais? Obviamente sim, para meu amigo paquito; meu entrevistador era um pateta, sem a menor aptidão para farejar o melhor nas pessoas. Quantos iguais a ele estarão por aí? Como essas criaturas podem deixar passar batido tantos (aconteceu a mesmíssima coisa com mais quatro ou cinco amigos meus), tantos talentos promissores? E mais importante: como essas criaturas podem deixar de fazer isso? Como fazer isso parar?
O problema é coletivo. Mas existe uma solução para essa grave dificuldade pela qual passa o mercado de trabalho brasileiro contemporâneo. Continuando minha missão como guia evolutivo da humanidade, criarei um Curso Intensivo de Formação de Profissionais de RH. A grade de disciplinas incluirá as 120 horas/aula de Provocações I, II e III, com Miranda e Sacomani do Ídolos e Antonio ‘Ravengar’ Abujamra, numa inusitada performance pedagógica assessorada por nossa própria equipe de advogados de acusação. E, é claro, a disciplina obrigatória ‘Como Não Ser Sexy Numa Entrevista’, com Marília Gabriela. Ainda: Palestra/depoimento com Zé Bin. E o workshop “Soro da Verdade – composição, dosagem e administração.”.
Em sete semanas nossos alunos estarão capacitados pra descobrir novos talentos sob o efeito de absinto.
E quando a ‘Olho de Thundera - Human Resources School’ estiver lucrando horrores, selecionando os psicólogos especialistas em comportamento humano das principais corporações mundiais e os próximos jurados do programa do Raul Gil, vamos abrir o capital da empresa e nos dedicar à filantropia, dando aulas públicas sobre em quem acreditar nas próximas eleições.
Matrículas abertas!
4 comentários:
Poxa Paulo...que situação hein? Eu já passei por cada uma também. Uma vez fui numa entrevista mostrei minha pasta e o cara disse: "Tô sentindo falta de texto". Eu quase cai da cadeira, como é que alguém diz a um redator que está sentindo falta de texto na pasta dele? Essa foi uma das tantas que passei, mas vamos em frente. Abraços.
Pedro, na verdade, essa foi uma experiência do meu amigo Zarathustra Jr.
Anh... Ele é bem intencionado.
Diz a seu amigo que não esquente, Paulo. Com certeza, a agência seguinte vai contratá-lo! :)
Tente ser da equipe de enfermagem dum hospital particular... Qualquer ignorante, em todos os aspectos (inclusive naqueles que dizem respeito única e exclusivamente à profissão), tem a pachorra de achar que pode te avaliar...
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