01 março 2011

Eu também vou reclamar ou As pessoas não prestam – parte 58

Por Zarathustra Jr.

Deve ser algo instintivo, programado em nossos genes: prevalecer é a coisa mais importante que existe. Não apenas sobreviver, como diria Darwin, mas derrotar e destruir o adversário é primordial. Temos esse espírito beligerante mesmo em tempos tidos como mais civilizados. E os combatentes, agora eloqüentes intelectuais, digladiam-se em arenas declaradas oficialmente como devotadas à evolução espiritual.

Subjetiva por natureza, a Arte é um campo fértil para a origem de discussões literalmente sem fim. Assim é que, sua Crítica, outrora uma tribuna reservada e unilateral, não resista à Web 2.0 e hoje seja ela mesma alvo de segundas e terceiras avaliações.

Os fóruns multiplicam-se internet a dentro. Aos comentários seguem-se réplicas e tréplicas dos diletantes mais sinceros aos mais pernósticos espíritos de porco, passando por advogados do diabo semi analfabetos.

Se por um lado essa revolução da opinião é saudável pelo exercício do questionamento, por outro, um acompanhamento mais demorado desses espaços de debate revela algo típico da nossa espécie, mas que ainda surpreende e deprime alguns: as pessoas desejam apenas vencer a discussão.

Não precisa ser nenhuma discussão em especial. Basta que você esteja de um lado pra que eu me coloque do outro. Você diz A e eu digo B, não importa quais subterfúgios eu use pra justificar a minha opinião B. O importante é que ela mostre o quanto a sua opinião A é mais fraca, rasa e ingênua que a minha, porque sou mais perspicaz e pude ver o que você não conseguiu por ser limitado e ... (qualquer outro adjetivo pejorativo que puder causar mais danos à moral do adversário)

As pessoas fazem isso até profissionalmente.

Mas a briga não é pra todos. Se você não consegue nem convencer sua irmãzinha a ceder o lugar da janela do carro, consiga um só seu. Nem precisa dirigir. Também não importa pra quem se fala. O que todos querem é dar vez à sua voz, nem que seja a até cento e quarenta caracteres por vez. E você só quer acenar da janela mesmo.

A seguir, para fins ilustrativos, alguns comentários da crítica de Besouro Verde, (em cartaz no Brasil há duas semanas) por Érico Brogo do site Omelete:

http://www.omelete.com.br/cinema/besouro-verde-critica/








4 comentários:

Vai de Táxi! disse...

"mas é que, se agora pra fazer sucesso pra vender disco de protesto, todo mundo tem que reclamar..."

Eu na verdade me divirto lendo esses foruns e essas debates virtuais...

Muito bom Junior, gostei bastante do texto.

Larissa Reis disse...

Crítica é igual a gosto, ou melhor dizendo, paladar, porque se diz mais refinada. Cada um tem o seu. Eu me divirto muito também tirando as minhas conclusões e lendo textos como o seu.

Curti, App!

Carolina Costa disse...

Pelo que eu ando lendo, essa briga de ego já data o século IV a.C. É lamentável, mas parece que sinceridade é daquele tipo de coisa rara, que você comemora qnd encontra.

(p.s: seus textos são sempre divertidos.)

Edvaldo Santos disse...

Deveras, eu nem me atrevo a descer as páginas do Omelete (só pra citar um mesmo) para ler os comentários. É uma troca de ofensas atrás da outra... Não vale a pena. Se bem que agora eles moderam o espaço. Espero que esteja dando certo.